A obra de duplicação da BR-343, na zona Sudeste de Teresina, tem gerado preocupação entre ativistas ambientais. Isso porque a intervenção ocorre em um dos trechos do Riacho Itararé — uma das principais sub-bacias hidrográficas da capital — afetando diretamente sua estrutura e os recursos naturais da região.
A duplicação é de responsabilidade do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), que, em nota, ressaltou que o projeto está devidamente amparado por licenciamento ambiental regular.

Rayane Venancio
Já a Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (SEMARH) informou que a empresa responsável pela obra deve comprovar a recuperação das áreas impactadas. A SEMARH também destacou que acompanha o projeto por meio do processo de licenciamento ambiental, com a emissão das licenças exigidas e fiscalização do cumprimento das condicionantes. Confira as notas dos órgãos na íntegra no final da matéria.
Ramon Rodrigues, integrante do Coletivo Riacho Itararé — grupo que atua na preservação ambiental e no desenvolvimento sustentável da área — explica que a principal preocupação está relacionada ao desmatamento e à perda de elementos naturais importantes para a biodiversidade do riacho.
“Esse é um local propício a alagamentos. Durante as chuvas, o riacho acumula o excesso de água e, no período mais seco, ele vai liberando esse volume, evitando que as áreas mais baixas sejam afetadas pelas chuvas intensas. A perda da mata ciliar e da vegetação de várzea prejudica não só os peixes, répteis e anfíbios que vivem aqui, mas também os humanos que residem nas áreas mais baixas. Isso porque haverá um aumento de sedimentos, que podem se acumular e causar alagamentos no futuro”, explicou o ativista.
Os ambientalistas reivindicam a construção de uma ponte sobre o riacho, como alternativa para preservar a biodiversidade local e o fluxo natural da água. Ramon afirma que a galeria que está sendo construída não atende às necessidades ambientais da região.
“A vegetação até pode ser recuperada após a supressão, mas o ideal seria a construção de uma ponte, em vez da instalação de bueiros ou galerias, como está sendo feito. O impacto ambiental da ponte é bem menor”, acrescentou.
Os ativistas destacam que o Riacho Itararé é uma das poucas sub-bacias que ainda resistem na paisagem urbana de Teresina. O arquiteto e urbanista Arthur Pedrosa, pesquisador do Laboratório Espaços Urbanos da Universidade Federal do Piauí (UFPI), reforça que, historicamente, a cidade foi construída sem considerar os riachos que compõem sua matriz hídrica.
Segundo ele, a supressão desses cursos d’água contribuiu para a consolidação de diversos núcleos urbanos da capital.
“Ocorreu também um processo de fragmentação dos percursos desses riachos, causado pela criação de ruas, avenidas e rodovias. Nesse contexto, a duplicação da rodovia se torna um problema ainda mais crítico. Quando se encontram riachos de menor porte que cruzam essas vias, são adotadas soluções convencionais de drenagem, como manilhas e bueiros, conhecidas tecnicamente como ‘obras de arte correntes’”, explicou o urbanista.
Pedrosa ressalta que essas intervenções tratam o riacho apenas como um canal de escoamento, ignorando suas funções ecossistêmicas.
“Essas obras negam as diversas funções ambientais que o riacho cumpre na paisagem urbana, como os serviços de regulação climática, melhoria da umidade do ar e até mesmo serviços culturais. Além disso, ignoram o riacho como um elemento constituinte da paisagem, que merece ser reconhecido e valorizado dentro da cidade”, concluiu.

Rayane Venancio
No próximo domingo, 1º de junho, ativistas e ambientalistas realizarão às 16h, na Avenida Deputado Paulo Ferraz, Recanto das Palmeiras, zona Sudeste de Teresina, um protesto em defesa do Riacho Itararé.
Confira a nota do DNIT na íntegra
A Superintendência Regional do DNIT/PI, informa que a implantação de uma obra de arte especial no Riacho Itararé integra o projeto de duplicação da BR-343/PI na zona urbana de Teresina, e está devidamente amparada por licenciamento ambiental regular, em conformidade com todas as exigências legais e técnicas. O dispositivo de drenagem foi projetado para garantir a transposição do curso hídrico sem alterar suas condições naturais de vazão e escoamento. Após a conclusão da obra, será realizada a reconfiguração do talvegue da bacia do riacho, conforme estabelecido nas condicionantes previstas no licenciamento ambiental vigente. O DNIT/PI reitera seu compromisso com a execução responsável de obras de infraestrutura, assegurando a integridade ambiental e a segurança viária.
Confira a nota da SEMARH na íntegra
A Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (SEMARH) informa que acompanha as obras por meio do licenciamento ambiental, com a emissão das licenças exigidas e fiscalização do cumprimento das condicionantes. Entre os pontos monitorados estão: a destinação correta dos resíduos sólidos, a recuperação das áreas utilizadas como canteiros de obras ou áreas de empréstimo, e a restauração das Áreas de Preservação Permanente (APPs) eventualmente afetadas. Ao final da obra, o responsável deve comprovar a recuperação das áreas impactadas. O descumprimento das condicionantes pode resultar em sanções administrativas, conforme a legislação ambiental vigente.
Fonte: Meio News