
A Polícia Civil do Piauí, através da Delegacia de Combate à Corrupção e Lavagem de Dinheiro (DECCOR), está aprofundando as investigações sobre um esquema criminoso de exclusão indevida de multas de trânsito na Superintendência Municipal de Transportes e Trânsito (Strans) de Teresina. Entre os beneficiados pelas irregularidades estariam condutores, empresas e autoridades políticas. A delegacia também apura a participação de vereadores e gabinetes da antiga gestão.
A fraude teria ocorrido entre no final de 2023 e os primeiros meses de 2024. Os prejuízos superam R$ 500 mil aos cofres públicos.
Segundo o delegado-geral Luccy Keiko, o esquema funcionava de forma seletiva e sistemática, favorecendo pessoas com acesso à gestão pública.
“A população em geral pagava as multas e sofria as sanções, enquanto outras tinham as infrações simplesmente apagadas do sistema, sem qualquer processo legal”, explicou.
Fotos: Renato Andrade/Cidadeverde.com

Pelo menos três pessoas já foram identificadas como executoras diretas do esquema, um ex-superintendente da Strans e um ex-gerente de trânsito, além de um servidor terceirizado que está foragido. O ex-superintendente e o ex-gerente vão usar tornozeleira eletrônica.
Os crimes investigados incluem associação criminosa e inserção indevida de dados em sistema público. A Polícia Civil vai analisar os materiais eletrônicos apreendidos para rastrear as ordens superiores e o envolvimento de agentes políticos, incluindo vereadores de Teresina.
“Vamos apurar a responsabilidade de todos os envolvidos. Não descartamos a instauração de novos inquéritos para rastrear as ordens superiores e o envolvimento de agentes políticos, incluindo vereadores de Teresina. Essas exclusões,tinham pedido formal e informal. Precisamos entender se houve tráfico de influência e em que circunstâncias essas ordens foram dadas”, destacou o delegado Ferdinando Martins, coordenador da DECCOR .
Operação Reset
A Operação Reset, deflagrada nesta quarta-feira (23), cumpriu dois mandados de busca e apreensão e um de prisão temporária. Também foi determinado o uso de tornozeleiras eletrônicas aos alvos localizados. Conforme a DECCOR, mais de 2 mil multas foram ilegalmente canceladas em um curto período.
O delegado Ferdinando Martins, coordenador da DECCOR, afirmou que as ordens de exclusão eram repassadas de forma informal e, muitas vezes, sem qualquer tipo de protocolo.
“Constatamos um verdadeiro improviso. Em muitos casos, nem sequer havia formalização de pedidos. Recebíamos relatos de que servidores recebiam bilhetes manuscritos com placas de veículos e a orientação de que era ‘ordem de tal secretaria ou gabinete’”, detalhou.
Fotos: Renato Andrade/Cidadeverde.com

Esses comandos eram executados por servidores terceirizados e chefes de setor comissionados da Strans, que faziam as mediações entre os beneficiários e o sistema de multas.
“Parte dessas exclusões foi feita fora do horário de expediente, usando senhas administrativas”, acrescentou.
A denúncia que originou a investigação surgiu após o ex-superintendente da Strans, Coronel Edvaldo Marques, ser abordado por uma pessoa agradecendo pela exclusão de uma multa.
“Surpreso com a informação, o ex-superintendente determinou uma auditoria interna que confirmou as irregularidades. Foi ele próprio quem identificou o problema e encaminhou os dados para a polícia. A auditoria revelou que a prática vinha ocorrendo há algum tempo e envolvia servidores ligados à antiga gestão”, afirmou.
Desdobramentos da investigação
A investigação apura agora quem eram os responsáveis por emitir as ordens e se houve vantagem financeira envolvida. Ainda segundo o delegado Ferdinando Martins, há indícios de participação de ex-gestores da Strans.
“Há indícios de pagamentos em espécie, pequenas quantias, dadas principalmente aos terceirizados que executavam as exclusões. As apurações também já indicam que ex-gestores da Strans e parentes deles foram beneficiados com a exclusão de multas de seus veículos”, acrescentou.
A próxima fase da investigação pretende identificar e ouvir os beneficiários diretos das exclusões.
As investigações seguem em sigilo, mas a DECCOR já confirmou que há indícios de envolvimento de autoridades com foro privilegiado.
“Pagava multa em Teresina quem não tinha acesso a uma determinada figura pública”, resumiu o delegado Luccy Keiko.
Ainda segundo a Polícia Civil, atual gestão da Strans segue colaborando com as autoridades e reforçou o compromisso com a transparência e legalidade nos processos internos.
Com informações de Polícia Civil e Cidadeverde.com